Sobre o conceito de Fine Art
O conceito de Fine Art surgiu no século XVIII, popularmente conhecido como belas-artes. Ele reafirmou a superioridade das artes em relação aos demais ofícios da criação humana. Essa distinção, porém, não era exatamente nova. No século XVI, Leonardo Da Vinci já havia dito que a pintura era uma “cosa mentale”.
Considerada uma “coisa mental” do pensamento e da erudição, a arte se desvinculava das produções técnicas e artesanais. Assim, exigia dos observadores algo além da operação tátil e elaborativa dos objetos. As artes aplicadas, por exemplo, eram vistas pela academia do século XVIII como práticas dos trabalhadores. Consistiam geralmente em objetos úteis para a vida diária ou decorativos.
O surgimento da academia alterou o status do artista e de suas produções. Agora, a arte se destinava à nobreza e intelectualidade. O artista deixou de ser apenas um produtor de objetos banais. Passou a ter um aporte teórico, intelectual, e merecia uma formação especializada.
Artes Aplicadas vs. Belas Artes
No entanto, ao longo da história, a relação entre belas-artes e artes aplicadas nem sempre foi clara. No início do século XIX, artistas do movimento Arts & Crafts se depararam com o avanço da produção industrial. Vendo a perda da dimensão autoral, reafirmaram a importância do trabalho artesanal. Buscavam preservar uma herança cultural da produção artística.
A Bauhaus intensificou essa relação complementar entre o artesanal e o artístico. Reintegrou a dimensão artesanal à produção industrial. Assim, consolidou um estilo que influenciou a arquitetura e o design de forma duradoura.
Com o avanço da produção industrial e o surgimento da fotografia, a dimensão autoral do objeto artístico enfrentou desafios. Walter Benjamin observou que essa crise de produção resultou na perda de uma “imantação” da vida autônoma da arte.
Benjamin chamou de “aura” essa característica do objeto artístico. Ela era definida por elementos espaciais e temporais específicos, vinculados ao seu período histórico. A “aura” estava relacionada à autenticidade da obra, em contraste com as produções em massa do capitalismo e da indústria cultural.
A técnica fotográfica
No século XX, a fotografia passou a ser investigada como um suporte para ideias que desafiavam convenções tradicionais. Artistas do surrealismo, expressionismo e cubismo exploraram a fotografia para expandir o conceito de arte. Na segunda metade do século, especialmente nos anos 60 e 70, com o surgimento da arte conceitual, a fotografia questionou a documentação, a realidade e a objetividade do suporte.
Yves Klein, por exemplo, criou o trabalho “Leap Into The Void” (1960) no contexto da corrida espacial entre Estados Unidos e Rússia e a disputa por imagens lunares. Ele produziu uma intervenção técnica que ficcionalizou sua queda no vazio. Assim, questionou a ideia do real, associada à fotografia, e propôs que ela poderia expressar conceitos intangíveis.
O mercado fotográfico
Nos anos 90, surgiu o termo “giclée” para descrever impressões fotográficas feitas em papéis de algodão ou fibras naturais, usando uma maior gama de pigmentos. Esse termo buscava evitar a conotação negativa do termo “jato de tinta”, já que a expressão significa “esguichar”.
Essas impressões, claramente superiores às produzidas em massa, mudaram o comportamento do consumo de fotografia no mercado de arte. Assim, a fotografia passou a ser reconhecida como Fine Art, seguindo critérios museológicos e artísticos e tendo maior aceitação no mercado.
A fotografia Fine Art, portanto, utiliza um suporte de alta qualidade, com maior aderência de pigmentos e maior durabilidade. Isso a torna mais resistente a fatores como luminosidade, temperatura e umidade. Parâmetros museológicos, mercadológicos e artísticos definem o que é ou não uma produção Fine Art, sempre seguindo critérios de qualidade e durabilidade.
Vale ressaltar que a impressão Fine Art envolve várias decisões desde a criação da fotografia. O tratamento, a escolha do papel, a impressão e os cuidados de conservação são essenciais para a durabilidade. Esses cuidados incluem a escolha de molduras adequadas e o uso de materiais com reserva alcalina ou pH neutro, além de embalagem e transporte apropriados.
Critérios da impressão Fine Art
O primeiro critério é entender o que a imagem oferece, o que suscita e o que demanda. Cada imagem é única e possui características que a distinguem das demais presentes no mundo. Aspectos como cor, luminosidade, sombra, matiz e forma são importantes para a escolha do papel ideal. Por exemplo, uma foto com mais cor e luminosidade pode se destacar mais em um papel brilhante. Compreender o que a imagem sugere é crucial na impressão Fine Art.
Compreendida a natureza da fotografia, é essencial observar os critérios de qualidade na escolha dos papéis. Existem muitos papéis que se enquadram na categoria Fine Art, feitos de fibras naturais como algodão ou bambu, brilhantes ou foscos. Esses papéis têm gramatura suficiente para maior absorção de pigmentos, garantindo maior durabilidade. Além disso, o uso de papéis sem branqueadores artificiais assegura maior vitalidade e evita a degradação ao longo do tempo.
Outro critério importante no processo de pós-impressão é o uso de materiais de pH neutro ou reserva alcalina. Esses materiais garantem maior qualidade e durabilidade das impressões. Papéis expostos a materiais e madeiras de baixo custo oxidam mais rapidamente, causando amarelamento, propagação de fungos e até mesmo o desaparecimento da imagem.
Decisões Fine Art
A denominação Fine Art vai além da escolha de papéis. Trata-se de um conjunto de decisões tomadas antes, durante e após a impressão. Esses parâmetros, estabelecidos com rigor, definem a aura das impressões. Todo o processo — da elaboração ao tratamento, da impressão à apresentação — compõe essas decisões. Assim, a produção Fine Art se trata de uma escolha de como trazer a obra ao mundo em sua singularidade.